
Ela acabara de ganhar seu primeiro celular. Tipo tijolão, enorme e azul. Era um belo aparelho na época. Na manhã seguinte que divulgou o número aos amigos, acordou com a seguinte mensagem: "Bom dia, princesa". Era ele, que sempre a chamava de "princesa", e aquela mensagem teve um gosto único de eternidade. Quase todos os dias, era surpreendida por uma mensagem diferente, destinada à "princesa" habitante lá do fundo do seu ser, que nada tinha de princesa. Era deselegante, desajeitada, estava sempre sem pentear os cabelos que já não viam uma tesoura há uns dois anos. Mas aquela mensagem, despertava imediatamente a princesinha escondida. Ela sentia-se querida. De fato ele a queria muito. Cada mensagem, vinha acompanhada por um motivo especial, de parabéns, de boa sorte, de saudade, de te adoro... Um dia se separaram. E foi para sempre. Mas com ela, ficou uma coleção de mensagens no seu celular, que ela não apagaria por nada no mundo. Passaram-se alguns anos. O celular teria se desvalorizado, se desmodernizado, mas ela não se desfazia dele. E nem tinha vergonha de atender aquele trambolho na frente de suas amigas que atendiam os celulares mais fininhos e moderninhos lançados. Ao rever aquelas mensagens, ela lembrava que um dia já foi a princesa de alguém. Certa vez, ela foi assaltada. E o ladrão não fez questão de levar o celular. Ela nem se entristeceu pela carteira e seus pertences materiais perdidos. Sua "eternidade" estava a salvo. Uma vez, ela acordou e o celular não. Ficou velho, os aparelhos celulares também tem um tempo de vida útil. Ela ficou a se perguntar: Existe eternidade?
 
 
