
O despertador do relógio biológico berrou no meu ouvido este final de semana. Faltando um mês e pouco pro meu aniversário, eu que nunca pensei em ser mãe, tenho andado um pouco vulnerável ao tratar do assunto. Acho que a explicação vem dos meus sobrinhos. O Vitor e o Artur são filhos do mesmo pai e da mesma mãe, que são separados . O pai deles teve o Bento com outra. A mãe deles teve o Henrico com o pai do João. Complicado? O Bento é irmão dos irmãos do irmão do João. Enfim, no meio daqueles trezentos irmãos (é, eles valem por trezentos) percebi que a vida do meu irmão nunca vai ser solitária e nem a vida nenhum dos pais desse monte de criança. Mesmo porque eles sempre estão juntos, até o Henrico que só tem meses de idade já olhava com aquela carinha de doido prá crescer e entrar na farra dos irmãos... Solidão não existe prá esses felizardos pais, ao menos até a adolescência...É só ter grana prá ter um carro grande. Tenho tentado enganar a vontade de ser mãe com bichos, mas meu medo de ser mãe de um bicho é quase tão grande quanto o de ser mãe de uma pessoa, por isso tem uma gata preta se hospedando na minha casa, e eu que sempre tive pavor dos bichanos estou quase apaixonada e com medo do nosso envolvimento. Sempre escutei que os gatos gostam da casa e não dos donos, mas essa não sai um minuto de perto, as vezes até dorme no meu colo. Tudo que eu preciso no momento, alguém prá dar colo. Mas ela não é minha, assim como Foguetinho, o cocker do vizinho que vem brincar comigo, e quando vai embora até choro. Ela vai embora assim que os pais dela conseguirem um apartamento prá morarem, e lá vou eu novamente chorar e chorar. Meus trezentos sobrinhos também não são meus, e quando eles vão prá casa também choro...Talvez um namorado mais novinho, tipo uns 18 anos seja mais fácil, mas esses não me enxergam como mãe. Também rola dos namorados novinhos irem embora e novamente chooooro! É, filho agora não. Soube de uma amiga que ficou grávida aos 37. Ainda tenho sete anos prá pensar no assunto. ... Por enquanto preciso dar um jeito de desligar esse despertador infernal ...
"O valor das coisas não esta no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que elas acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."
Fernando Pessoa, escritor português –1888-1935
 
 
